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sábado, 9 de outubro de 2010

IIº Capítulo - Visão Crítica ( Parte II)

- Pode ir, também já vou, o sinal está tocando.
Despediu-se, tomou o material nos braços desordenadamente e saiu um tanto veloz. Apressou-se de tal modo, que esbarrou num garoto.
- Ah, me desculpa. - Disse Maggie.
- Não, me desculpe, a culpa foi minha. Aqui estão seus livros. Te pago outro hambúrguer.
- Não, não precisa.
- Ah, prazer, Bruce Robert.
- Maggie Kanions, prazer, tchau - falou correndo - A gente se vê por aí.
- Ah, está bem, mas... Você deixou cair o seu casaco!
Maggie não escutou, pois saira correndo.
Acabado as aulas, foram para casa. Tudo estava escuro, abriu a porta frontal e encontrou a casa vazia. Seu pai ainda não havia chegado. Era comum, Maggie compreendia, afinal ele era o dono da grande “Kanions Est Industrias Ltda” e, deveria está sempre muito ocupado. Na verdade, John Kanions sempre teve responsabilidades demais, para que sobrasse alguma parte do seu tempo. A família era apenas mais uma delas, que quase sempre ficou esquecida na parte não tão importante da lista daquele grande homem. Talvez ele nunca percebera, mas após aquele fato trágico, novas concepções estavam surgindo, e uma pequena porta de ligação familiar, estava diminuindo a cada dia, sumindo cada vez mais e, ficando invisível a tal ponto, que olhos defeituosos não poderiam vê-la.
- Maggie, Justin? - Disse John, empurrando a porta frontal. Tudo estava escuro e silencioso, estranhou ele. Pôs suas coisas na mesa, subiu as escadas e foi aos quartos. Estavam dormindo, então deu-se conta de que já eram 00:30h.
- Boa noite -Disse sussurrando.
O dia amanheceu e a casa já estava vazia novamente. Maggie acordou cedo, tomou um banho gelado, para despertar do sono, desceu a cozinha, preparou o café da manhã e tomou-o. Em seguida, desceu ao porão, interessava-lhe terminar sua composição, ocupar sua mente e, lhe veio a recente lembrança de que no porão, havia muitos livros velhos, guardados e um tanto empoeirados que dificilmente alguém lia. Então viu algumas prateleiras.
- Não, isso também não, Romeu e Julieta, talvez...
Logo viu um pequeno armário, aparentemente feito de madeira bruta, levemente lixado e invernizado grosseiramente. Alcançou uma gavetinha discreta, que havia na parte mais baixa do móvel e, abriu-a. Encontrou muitos jornais e papéis, cobertos com muita poeira. Tomou a mão um jornal fácil, soprou sua poeira e leu:
-“John Kanions briga incansavelmente na justiça, pela casinha no lago"...-Leu surpresa - Porque papai nunca me contou nada sobre isso?

Pegou o jornal e guardou consigo.
Na mesma noite daquele dia, as suspeitas de Maggie se confirmaram. Seu pai estava diferente. Maggie decidiu não esperar mais. Precisava conversar, as coisas não estavam no seu estado normal.
- Pai, podemos conversar?
- Filha, não pode ser outra hora? - Disse fechando a porta - São 01:30h.
- Por isso mesmo pai, são 01:30h, o que esta acontecendo? Depois da morte da mamãe você não fica mais em casa. A maior parte do dia, você esta ocupado, trabalhando. Você não percebe? Eu estou sofrendo com isso, não basta a morte da mamãe? A cada dia estou ficando sem pai. Acordo você não está, quando durmo também não. Você esta se tornando John Kanions o grande dona da “Kanions Est” que todos conhecem e, não é isso que eu quero - Disse chorando - Eu quero meu pai de volta. O pai de uma garotinha que quando tinha cinco anos, prometeu, segurando nas mãos dela, que teriam uma linda família, que nunca iria abandoná-La e que seriam muito felizes.
- Mas, filha, você sabe quanto é difícil? - disse gritando - Nas últimas semanas, eu tenho tido as piores experiências da minha vida. Você não sabe o que eu estou passando sem sua mãe. Você não entende?
Maggie subiu um pouco as escadas e então parou, baixou a cabeça e em seguida, olhou para seu pai em pranto.
- Espero que quando “você”, volte a ser quem era... Não seja tarde demais.
IIº Capítulo - Visão Crítica ( Parte I)


Terminara as férias. Voltariam a escola. Maggie ocuparia sua mente, conheceria novas pessoas, faria coisas diferentes. Em meados de Setembro, Princeton não era mais a mesma, a pacata cidade universitária, enchia-se de novos moradores, ganhava novos sentidos. A cidade estudantil ficava bem agitada. Assim responderia ao fenômeno das variações. Mas tudo não era simplesmente tão fácil. No momento todas atenções tinham uma única direção. Ao menos num mundo tão confuso e jovem, de uma cabeça adolescente. Os dias se passavam, mas aquela sensação obscura continuava ali, hospedada, indiscutivelmente imóvel. Algumas vezes o tempo parava. Era transitório, mas acontecia tudo novamente, do mesmo modo.
- Chegamos

- Está tocando o sinal. Tenho que ir.

Sua face tinha aspecto sereno, um sorriso leve tornava seus lábios claros a vista, passos firmes coincidiam, todos a olhavam, até o momento em que tudo estagnou. Não havia explicações. Apenas dúvidas, aquele medo, aquela aflição.
- Ah, não, não.

- Maggie, acorda! - Gritou Justin.

- O que foi? - Falou assustada.

- Você estava impaciente. Parecia está tendo um pesadelo.
- Então... - Pausou ela, respirando ofegante - Não estávamos na escola.

Levantou, dirigiu-se ao chuveiro, precisava refrescar sua mente.

-“Agora, estamos indo pra escola, daqui a um semestre terminará as aulas, isso é assustador. O fato de como poderá ser minhas férias, me lembra o acidente, tenho medo de sofrer de novo. Não sei se seria forte o bastante, não sei se superaria - Pensou ela, enquanto as últimas gotas tocavam sua pele.

- Chegamos.

- Está tocando o sinal, tenho que ir. Ah, não, isso de novo não! As pessoas, o sinal, minhas pernas!

- Maggie, Maggie! - Gritou sua colega.

- Oi, Pixie.

- Você está bem?

- Não... As minhas pernas? - Olhou-as e nada viu.

- O que tem elas?

- Ah, nada!

- Estranho. Maggie, eu estava falando, que soube da morte da sua mãe e, que sentia muito, de repente parecia que você não estava me escutando.

- É que... Eu estava lembrando de uma coisa.
- Que coisa?

- Nada importante.
- Tem certeza? Porque você estava diferente.

- Não, não, tudo bem?

- Mesmo?

- Mesmo - Afirmou Maggie, entrando na sala.

- Então, está bem - Disse Pixie.

- Sentem-se, por favor, peguem os folhetos nas mesas e vão para os pianos. Hoje vamos aprender a tocar o primeiro soneto de Beethoven. - Disse a professora.
Aula de música. Estava frio. Maggie pôs seu casaco de algodão e, sentou. Seus dedos estavam gelados e sensíveis, chacoalhou-os para esquentá-los e estralou-os num exercício conjunto. Dispôs do piano e começou tocar. Maggie era ótima. Conseguia compreender as combinações. Expressava em cada nota, segurança e experiência. Tudo parecia muito simples. Podia tocar todo dia, se não existissem horas. A aula transformava-se em terapia e ela tornava-se sem problemas.


Se passaram três aulas, chegou o intervalo, isolava-se e compunha. Escrever nã
o era apenas um ato desgastante, mas sim, uma forma de fazer confissões a um ouvinte inesperado, oculto. Mas do que um hob, era uma forma de desabafar, de esquecer um pouco as coisas. Ainda que não demonstrasse, era difícil aceitar aquela nova condição. Compunha sobre si, sobre sua família, sobre sua vida... E sobre tantas surpresas.
- Maggie?

- Oi Justin.

- Trouxe hambúrguer, fritas e suco - Disse Justin, entrando - E aí, compondo?
- Sim, se chama “The life is a butterfly”.
- Posso ver, Maggie? - E ela o permitiu com um gesto - Maggie... Olha, você ainda não consegue conviver com isso, não é?

- É, as vezes tudo parece muito difícil.

- Justin, está ai? - Disse Leó interrompendo-os.

- Oi Leó.

- Vamos, já vai começar o treino de futebol.
- Tá bom, já estou indo. Vejo você depois, tá maninha - sussurrou ele.